Projeto extrai terras raras de resíduos da mineração e gera água tratada

Criciúma
Edson Padoin
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Na semana em que se celebra o Dia Mundial da Água, um projeto inovador desenvolvido na Região Carbonífera chama a atenção por unir tecnologia, sustentabilidade e recuperação ambiental. Financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc), o projeto desenvolvido pelo Centro Tecnológico (CT) Satc busca extrair Terras Raras (ETR) a partir da Drenagem Ácida de Mina (DAM), um resíduo poluente gerado pela mineração de carvão. Como subproduto, a iniciativa também gera água tratada, que pode ser devolvida ao meio ambiente, contribuindo para a revitalização de rios e áreas contaminadas.

As Terras Raras são um conjunto de 17 elementos químicos essenciais para a produção de tecnologias de ponta, como celulares, baterias de carros elétricos, lâmpadas de LED e até armamentos militares. Apesar de serem abundantes na natureza, sua extração é complexa e economicamente dispendiosa, com a China dominando quase todo o mercado global. O projeto brasileiro, no entanto, propõe uma alternativa sustentável e inovadora: extrair esses elementos a partir da DAM, um passivo ambiental deixado pela mineração de carvão no passado.

Rejeito

A Drenagem Ácida de Mina é formada quando rejeitos ricos em pirita, conhecida como “ouro de tolo”, são expostos ao ar e à água da chuva. Esse processo gera um líquido que contamina rios e solos. A engenheira química e pesquisadora do Centro Tecnológico (CT) da Satc, Vanessa Olivo Viola, explica que o projeto surgiu da necessidade de transformar um problema ambiental em uma oportunidade econômica e sustentável.

“Estamos trabalhando firme na transição energética, tanto por conta do carvão, quanto na nossa linha de trabalho. Sempre trabalhamos com síntese de materiais, e vimos que há estudos mundiais sobre terras raras a partir de fontes não convencionais, como cinzas de carvão e DAM. Fizemos um estudo exploratório e identificamos que, na nossa região, a DAM tem uma concentração de terras raras um pouco maior do que o valor de corte estipulado globalmente. Isso nos mostrou um potencial para começar a estudar e explorar”, afirma Vanessa.

Estudo

O projeto mapeou 20 locais contaminados com DAM na região, identificando pontos com potencial para extração de terras raras. “Agora, estamos montando uma planta para tratar 200 metros cúbicos de DAM, um volume significativo. Vamos coletar a drenagem com caminhões-pipa, trazemos para o CT Satc e realizamos o processo de correção do pH e extração dos metais. Como subproduto, geramos água tratada, que pode ser devolvida ao meio ambiente”, detalha a pesquisadora. A iniciativa conta com uma parceria do Centro de Tecnologia Mineral (Cetem).

Processo

Um dos grandes benefícios do projeto é a geração de água tratada a partir de um resíduo altamente poluente. “A DAM tem um pH muito baixo e é super agressiva para o meio ambiente. Nosso processo corrige o pH e remove os metais, resultando em uma água tratada. Para torná-la potável, ainda precisamos verificar quesitos como sabor e odor, mas, para retornar ao meio ambiente, ela já está pronta”, explica Vanessa.

A pesquisadora cita um exemplo inspirador nos Estados Unidos, onde um projeto semelhante revitalizou um rio que antes era altamente contaminado. “Visitamos um local que era completamente laranja no passado e hoje está com água cristalina, cheia de peixes e vida aquática. Ainda não estamos nesse nível, mas, com investimento e escala, é possível recuperar pontos da nossa região”, destaca.

Importância para a transição energética justa

Estudo pioneiro no Brasil é desenvolvido pelo Centro Tecnológico (CT) Satc

Além de todos os benefícios, a pesquisa envolvendo a obtenção de elementos Terras Raras a partir de passivos ambientais tem dupla importância para a transição energética justa.

“Se por um lado auxilia na recuperação ambiental, por outro lado ainda disponibiliza minerais críticos e estratégicos que estão sendo muito demandados atualmente. Os resultados obtidos até o momento nos mostram um cenário positivo no futuro e com grande potencial econômico. Tendo em vista que o cuidado ambiental é um dos pilares do nosso setor e a pesquisa favorece duplamente a transição energética”, destaca o diretor técnico do Sindicato da Indústria de Extração de Carvão do Estado de Santa Catarina (Siecesc-Carvão+), Marcio Zanuz.

O “ouro” da tecnologia moderna

As Terras Raras são elementos químicos essenciais para a produção de tecnologias modernas. “Um iPhone tem pelo menos cinco terras raras em sua composição, assim como as baterias de carros elétricos. Com a transição energética global, a demanda por esses elementos só aumenta”, comenta Vanessa.

A dependência global da China, que controla quase todo o mercado de terras raras, tem motivado países como os Estados Unidos a investirem em pesquisas para produção interna. “O Brasil tem uma das maiores reservas de terras raras do mundo, mas parou de produzi-las quando a China dominou o mercado. Agora, com a retomada das pesquisas, nosso projeto é pioneiro ao extrair esses elementos a partir de resíduos, como a DAM”, ressalta a pesquisadora.

Além de gerar produtos de alto valor agregado, como terras raras e óxido de ferro, o projeto busca viabilizar o tratamento da DAM de forma economicamente sustentável. “Em vez de apenas gastar para tratar um passivo ambiental, estamos gerando produtos que podem trazer retorno financeiro. É uma forma de transformar um problema em oportunidade”, afirma Vanessa.

Com potencial para ser replicado em outras áreas contaminadas, o projeto representa um avanço significativo para a região. “É algo totalmente inovador. Pegamos algo que era prejudicial e o transformamos em um produto valioso”, conclui a pesquisadora.

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