Projeto do IFSC mapeia presença de microplásticos em praias do Sul de SC

Minúsculos, invisíveis para quem caminha à beira-mar, mas cada vez mais presentes no meio ambiente: os microplásticos estão se acumulando também na areia das praias do Sul catarinense. A constatação é resultado de uma pesquisa realizada pelo Câmpus Criciúma do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), que identificou a presença desse tipo de resíduo em todas as amostras analisadas em quatro balneários da região. Foram identificadas 1.299 partículas, sendo a maioria composta por fibras plásticas de difícil visualização a olho nu, mas com potencial de impacto ambiental e risco à saúde humana.

A pesquisa, coordenada pelo professor Pedro Rosso, foi realizada entre novembro de 2024 e maio de 2025, com coletas em Balneário Gaivota, Balneário Arroio do Silva, Balneário Rincão e na Praia Grande, em Laguna. Os resíduos analisados foram classificados de acordo com tamanho, tipo, forma e coloração. O resultado indicou um cenário de ampla contaminação por microplásticos secundários, resíduos que se originam da fragmentação de plásticos maiores, como redes de pesca, tecidos sintéticos e embalagens.

“A ideia de investigar os microplásticos na região surgiu porque, havia pouca produção científica sobre a areia das praias aqui no Sul catarinense. Enquanto estudos já haviam sido feitos no Nordeste e Sudeste, aqui praticamente não havia registros. Tendo em vista que a gente tem balneários bastante utilizados, principalmente no verão, surgiu a ideia: vamos ver microplásticos na areia”, explica Rosso.

Segundo ele, o objetivo inicial era identificar se os fragmentos estavam presentes nas praias da região. “E a gente comprovou que estão. Descobrimos também quais tipos predominam, os tamanhos, as cores e as formas”, afirma. Dos 1.299 microplásticos encontrados, 95% foram classificados como pequenos, com menos de um milímetro. As fibras representaram 99,4% dos fragmentos pequenos e quase 80% dos grandes, sugerindo forte relação com resíduos de pesca e vestuário. As cores predominantes foram branca e transparente, o que pode indicar plásticos antigos, desgastados pela ação do tempo e da luz solar.

O impacto dos microplásticos, segundo o professor, é preocupante. “Sempre que a gente tem microplásticos, a gente tem uma poluição ambiental que pode, de alguma forma, entrar nas cadeias alimentares e comprometer a vida dos sistemas ecológicos. Em última análise, estes microplásticos podem chegar ao próprio ser humano. Se eles estão na areia, provavelmente têm origem no mar. Talvez uma parte venha do ambiente costeiro, mas muitos vêm do oceano. E, se vêm do mar, os organismos marinhos estão predispostos a serem contaminados. Essa contaminação pode chegar até nós, por meio do consumo de animais marinhos utilizados na alimentação” alerta.

A pesquisa também tem papel educacional. Envolvendo alunos dos cursos técnicos em Meio Ambiente e Química, ela permite vivências práticas em campo e laboratório. “Eles aprendem a parte do trabalho em campo, da coleta de amostras, de como proceder com registros, depois trazem o material para o laboratório, tratam esse material com metodologias e técnicas específicas, colocam tudo em prática, estudam literatura, fazem estatística. É uma experiência que promove um crescimento profissional muito grande. Isso enriquece a formação e contribui para que eles tenham mais sucesso no mercado de trabalho”, destaca Rosso.

Microplásticos em frutos do mar

O estudo motivou o início de uma nova etapa de investigação: a análise da presença de microplásticos em mariscos da região. O foco é um pequeno molusco conhecido como “maçã-beck”, comum nas praias do Sul e consumido pela população local. “Esses mariscos são utilizados culturalmente na alimentação. São animais filtradores, filtram a água para obter alimento, e podem estar retendo microplásticos no tecido. Isso pode acabar na alimentação humana. Então é um desdobramento importante da pesquisa”, explica o professor.

A expectativa é que os resultados sejam apresentados no Simpósio de Integração Científica e Tecnológica do Sul Catarinense (SICT-SUL) e no Congresso de Pesquisa do IFSC (CPEI). Com a publicação dos dados, Rosso acredita que novas parcerias possam surgir. “Neste projeto inicial, fizemos uma coleta em novembro, outra em abril, e faremos mais uma em julho. O ideal seria conseguir fazer isso com uma periodicidade maior, cobrindo pelo menos um ano. Mas, neste momento, estamos limitados por tempo e recursos financeiros. Com a publicação, talvez surjam possibilidades de expansão”, comenta.

Para o professor, um dos principais ganhos do trabalho está na conscientização da sociedade sobre um problema invisível. “Microplásticos têm entre 0,1 e 5 milímetros. São muito pequenos e passam despercebidos por quem está na praia. Lixos maiores incomodam. Mas resíduos pequenos não, e se ninguém vê, ninguém se incomoda. Se não incomoda, as pessoas não se preocupam. Precisamos alertar que resíduos plásticos não são só os visíveis. Existem resíduos que a gente não vê, mas que podem trazer problemas sérios, inclusive à saúde pública. É um alerta ambiental que precisa ser olhado com atenção”, finaliza Rosso.

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