A dor que não passa e as marcas de quem sobreviveu

Criciúma
Edson Padoin
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A pandemia de covid-19 não foi apenas uma crise sanitária ou econômica. Foi, acima de tudo, uma tragédia humana. Para quem perdeu entes queridos ou sobreviveu à doença carregando sequelas físicas e emocionais, o tempo não apaga a dor. Cinco anos depois, as histórias de Renato da Silva Silvano e Tiago Inácio são testemunhos vivos de um período que marcou gerações. Eles são rostos de uma estatística que, por trás dos números, esconde lágrimas, saudade e um vazio que nunca se preenche.

Renato, de 50 anos, foi um dos primeiros a sentir os efeitos da covid-19 em sua família. “Comecei com uma dor forte no peito e fui ao hospital, mas me mandaram para casa”, relembra. O diagnóstico veio dias depois: covid, não pneumonia. A doença avançou rapidamente. “A falta de ar ficou intensa, e precisei ser internado”, conta. Enquanto ele lutava pela vida no hospital, sua esposa, Rosilene Gonçalves da Silva Silvano, de 40 anos, também começou a passar mal. “Ela foi internada com oxigênio, mas piorou rapidamente”, diz Silvano, com a voz embargada.

Tratamento

Os dois foram transferidos para Tubarão, onde Renato foi intubado. “Fiquei 16 dias sedado. Tive muitos sonhos, e sempre que tentavam reduzir a sedação, eu passava mal”, relata. Enquanto ele lutava contra a doença, Rosilene não resistiu. “No dia 8 de junho, me desintubaram. Foi nesse período que senti que minha esposa havia partido. Eu disse ao meu filho: ‘A mãe não está bem’. Ele tentou me tranquilizar, mas, naquele mesmo dia, ela faleceu. O rim dela parou de funcionar. Para me proteger, meus filhos não me contaram de imediato. Somente dois dias depois, com o apoio de médicos e uma psicóloga, me deram a notícia. Mas eu já sabia”, diz, com os olhos marejados. Rosilene faleceu no mesmo dia em que Renato acordou. “Ela foi enterrada enquanto eu ainda estava internado. Não pude ir ao enterro, mas consegui ir à missa de sétimo dia”, conta.

História de vida

Foram 27 anos de uma história de amor que começou na adolescência. “Ela foi minha primeira namorada, e eu, o primeiro dela. Tivemos dois filhos, que hoje têm 27 e 21 anos”, diz Renato. A saudade é diária. “Até hoje, não acredito que ela se foi. Onde um ia, o outro ia também”, desabafa. As sequelas da covid ainda estão presentes. “Tenho problemas nos pés e na garganta. Psicologicamente, mudou muita coisa. Para os meus filhos, também foi muito difícil. A mãe sempre cuidava de tudo de um jeito especial. Mãe é mãe”, conclui, com um suspiro que carrega o peso de uma dor que não cicatriza.

O último ato de amor de uma mãe

Tiago perdeu a irmã durante a pandemia de covid-19 | FotoS: DIVULGAÇÃO

Para Tiago Inácio, a pandemia também deixou uma ferida aberta. Ele perdeu a irmã, Amanda Ferreira Inácio, que estava grávida de seis meses. “Ela descobriu que estava com covid no sexto mês de gestação. Acabou falecendo nesse período e a menina nasceu quando ela precisou ser intubada”, conta Inácio. Isabele, a filha de Amanda, completou quatro anos no dia 8 de março deste ano. “Ela não conheceu a Amanda, não chegou nem ver, não teve nenhum tipo de contato, mas é o que acaba suprindo esse vazio deixado pela ida da minha irmã”, diz.

Muita saudade

O mês de março é especialmente doloroso para a família. Hoje Amanda estaria comemorando o seu aniversário. “Dia 8 é o nascimento da Isabele, dia 17 é o aniversário da Amanda, e dia 24 é a data da morte dela. É um mês muito pesado”, desabafa. A dor da perda não diminuiu com o tempo. “O vazio nunca cessa. A saudade não ameniza, principalmente pela forma como tudo aconteceu”, diz. A família tenta seguir em frente, carregando as lembranças de quem partiu e cuidando de quem ficou. “A Isabele mora com meus pais. Ela é saudável, forte e nós sempre comemoramos muito o aniversário dela. Mas o mês de março sempre machuca, aperta e maltrata”, confessa.

Lembranças

Cinco anos depois, as histórias de Renato e Tiago são um retrato do que a pandemia deixou: famílias despedaçadas, vidas interrompidas e corações partidos. A covid-19 não escolheu vítimas, mas suas marcas são mais profundas naqueles que perderam quem amavam. Para eles, o tempo não cura. Apenas ensina a conviver com a dor.

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