Cinco anos pós-pandemia: as marcas e os desafios que ainda persistem

Criciúma
Edson Padoin
[email protected]

Há exatos cinco anos, Santa Catarina decretava situação de emergência diante da transmissão comunitária do coronavírus. Naquele momento, o mundo parou. As ruas esvaziaram, os hospitais lotaram, e o medo se instalou. Hoje, as máscaras já não cobrem mais os rostos nas ruas e a vida parece ter retomado seu curso. Mas as cicatrizes da pandemia ainda estão lá, profundas e dolorosas, moldando o presente e desafiando o futuro. A covid-19 não foi apenas uma crise sanitária, foi um divisor de águas que redefiniu a forma como vivemos, amamos e cuidamos uns dos outros. Enquanto alguns respiram aliviados com a queda dos casos graves, outros carregam no corpo e na alma as sequelas de um vírus que não escolheu vítimas.

O coordenador do Centro de Pesquisa Clínica do Hospital São José e professor do curso de medicina da Unesc, Dr. Felipe Dal Pizzol, lembra que, embora os casos graves sejam raros hoje, o fantasma da “covid longa” ainda assombra milhões. “Ainda existem pessoas que tiveram a doença de forma mais grave e hoje carregam sequelas que impactam sua funcionalidade e qualidade de vida”, explica. Dificuldades cognitivas, ansiedade, depressão, fraqueza e dores persistentes são alguns dos sintomas que desafiam a medicina. “Não temos ferramentas altamente efetivas para manejar isso. A reabilitação e os medicamentos disponíveis ajudam, mas não são suficientes”, lamenta.

Esperança

A vacinação, que foi a grande esperança no combate ao vírus, ainda enfrenta resistência. “A dificuldade em manter níveis adequados de vacinação não se aplica apenas à covid, mas impacta diretamente na proteção da população”, alerta Dal Pizzol. Ele ressalta que, embora o vírus continue evoluindo, as novas variantes não têm sido tão agressivas, graças à imunidade adquirida pelas vacinas e infecções anteriores. No entanto, a desconfiança em relação às vacinas preocupa. “A redução do interesse pela vacina é um fator de preocupação. Elas são a maneira mais eficaz de proteger a população como um todo, especialmente os mais vulneráveis”, reforça.

O pneumologista Renato Matos, por sua vez, destaca os avanços no tratamento de doenças respiratórias. “A pandemia trouxe testes rápidos e baratos para diagnóstico não só da covid, mas também de influenza e outros vírus. Hoje, sabemos rapidamente qual vírus estamos enfrentando e podemos agir de forma mais precisa”, explica. No entanto, ele critica a falta de preparo global para futuras pandemias. “Não houve avanços significativos nesse aspecto. As infecções virais são subnotificadas, e perdemos a oportunidade de um diagnóstico mais correto”, afirma.

Sistema de controle

Matos também lamenta a falta de um sistema mundial de controle de pandemias. “Precisamos de um organismo central que acompanhe vírus com potencial pandêmico. Quanto mais rápido forem diagnosticados, menor a chance de novas pandemias”, defende. Ele cita o exemplo dos Estados Unidos, que se afastou da Organização Mundial da Saúde, como um retrocesso. “O mundo não aproveitou de forma adequada essa pandemia. Isso é perigoso, porque novos vírus surgem a todo momento”, alerta.

Apesar dos desafios, há luz no fim do túnel. Dal Pizzol acredita que a humanidade está mais preparada para enfrentar futuras crises sanitárias. “Aprendemos que somos vulneráveis, mas podemos nos organizar rapidamente para combater pandemias”, afirma.

Impactos econômicos e a transformação dos setores

Se a pandemia de covid-19 deixou marcas profundas na saúde e no comportamento das pessoas, no campo da economia, ela foi um terremoto que abalou estruturas, fechou portas e forçou reinvenções. Cinco anos depois, os setores de eventos, restaurantes e comércio ainda sentem os efeitos daqueles dias sombrios de 2020, quando as portas foram fechadas à força e o futuro parecia incerto. Hoje, a retomada é visível, mas os desafios persistem: dívidas acumuladas, mudanças nos hábitos de consumo e uma nova realidade que exige adaptação constante.

Impactos

Para a presidente do EmturSul Convention & Visitors Bureau de Criciúma e Região, Jaqueline Backes, o setor de eventos foi um dos mais impactados pela pandemia. “Tivemos cancelamentos e adiamentos de feiras, exposições, congressos e festas. A crise financeira atingiu organizadores, fornecedores e prestadores de serviços, como empresas de montagem de estandes, buffets e locação de espaços”, relembra. A saída foi a migração para eventos virtuais ou híbridos, além de investimentos em transmissões ao vivo e alternativas como eventos drive-in. “Muitas empresas diversificaram serviços, oferecendo aluguel de equipamentos para transmissões online e consultorias para adaptação às novas exigências sanitárias”, explica.

Dificuldades são uma realidade

Apesar da recuperação significativa, com grandes eventos voltando ao calendário e o aumento da participação do público, os desafios ainda são grandes. “A instabilidade econômica, o aumento dos custos operacionais e a falta de fornecedores, já que muitas empresas saíram do segmento, são obstáculos que enfrentamos”, destaca Jaqueline. A pandemia também trouxe mudanças permanentes, como a maior preocupação com segurança sanitária, a digitalização de processos e a valorização da experiência do público e da sustentabilidade. “Algumas empresas não resistiram, mas o mercado foi parcialmente ocupado por novas empresas, mais inovadoras e adaptadas à nova realidade”, afirma.

No setor de restaurantes, bares e hotéis, o cenário foi ainda mais dramático. O presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Sul Catarinense, Joster Favero, descreve o impacto como “inimaginável”. “Fomos o último setor a retomar o faturamento. Ficamos meses fechados, acumulando dívidas e tentando nos adaptar a um delivery que não fazia parte da realidade da maioria dos estabelecimentos”, relata. O apoio governamental, segundo ele, foi “tímido e ineficaz”. “Não houve perdão de impostos, apenas postergação. Muitos estabelecimentos fecharam, e os que sobreviveram ainda carregam dívidas contraídas na pandemia”, lamenta.

Aumento de custos

A inflação e o aumento dos custos de insumos como carne, óleo e energia elétrica agravaram a situação. “Não conseguimos repassar totalmente esses custos aos cardápios, o que impactou a rentabilidade”, explica Favero. Além disso, os hábitos de consumo mudaram. “As pessoas passaram a sair menos e a pedir mais delivery, o que gera custos adicionais para os estabelecimentos, como taxas de plataformas e encargos com motoboys”, diz. Apesar dos desafios, ele vê o futuro com otimismo. “O pior já ficou para trás. Estamos em 2025 com expectativas positivas, mas ainda há um longo caminho para a recuperação total”, afirma.

*Fonte: Sebrae/SC Observatório de Negócios

Comércio teve queda histórica

No comércio, os impactos também foram severos. Edilene Cavalcanti, economista da Fecomércio SC, relembra que a confiança do empresário, que estava em 136 pontos em fevereiro de 2020, caiu para 61 pontos em abril do mesmo ano. “Foi um choque. O volume de vendas do comércio caiu 7% em abril de 2020, a maior queda da série histórica em Santa Catarina”, destaca. O setor de serviços, que inclui o turismo, registrou uma queda de 20% no mesmo período, com as atividades turísticas despencando 63%.

O mercado de trabalho também sofreu. Em abril de 2020, 80 mil pessoas foram demitidas no estado. “Foi um cenário devastador, especialmente para os pequenos comerciantes, que não tinham como manter suas portas abertas sem consumidores”, explica Edilene. A recuperação foi lenta, mas em 2025 o mercado de trabalho catarinense está aquecido, com uma taxa de desemprego de apenas 2,7%, a segunda menor do país.

Mudança

A pandemia também acelerou mudanças que vieram para ficar. “As compras online cresceram significativamente, e os consumidores se tornaram mais conscientes, buscando descontos e promoções”, afirma a economista. O comércio local ganhou importância, mas a conveniência das compras virtuais e a variedade de produtos online continuam atraindo os consumidores.

Leia a matéria completa na edição desta segunda-feira, dia 17, do jornal impresso Tribuna de Notícias. Ligue para 48 3478-2900 e garanta sua assinatura.

O post Cinco anos pós-pandemia: as marcas e os desafios que ainda persistem apareceu primeiro em TN Sul | Portal de Notícias.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.