Há dez anos, projeto semeia esperança às crianças de Criciúma

Criciúma
Tiago Monte
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Há dez anos, em outubro de 2014, o ex-jogador de futebol Marcelo David, o Marcelinho, de 47 anos, inaugurava o projeto Sementes Para o Futuro. Com o intuito de auxiliar no desenvolvimento de crianças e adolescentes – e, principalmente, tirá-los do caminho das drogas e do crime – o criciumense deixou a coordenação de um Centro Terapêutico para se dedicar aos pequenos. “A gente trabalhava com homens com problema de álcool, droga, e o índice de recuperação é muito baixo. Como sou ex-atleta, disse: ‘cara, porque não trabalhar com esporte, criança, prevenção?’ Então, fui lá para o Boa Vista, em 2014, nas escolas, e comecei a fazer a divulgação”, lembra Marcelinho.

O sucesso foi mais rápido do que ele esperava. “ Por se tratar de futebol, trabalho social de graça, na primeira semana já vieram 80 alunos. De lá para cá, a gente vem desenvolvendo, semana a semana, mês a mês, naquela ideia que a gente teve lá atrás, que é formar cidadão – e isso a gente não abre mão. Atleta, eu sei que nem todo mundo vai ser, porque eu estive lá dentro dos 8 até 27 e eu sei que precisa de muita coisa, mas dentro do esporte, se consegue formar cidadão”, comenta o fundador.

Desde 2014, mais de 500 crianças já passaram pelo projeto. Hoje, ele atende crianças entre 6 e 15 anos. Porém, aqueles que passam da idade máxima podem continuar no projeto, mas como uma espécie de auxiliares. “Para competição, a gente trabalha até, no máximo, 15 anos. Hoje, para levar um menino de15 anos a um clube, ele tem que estar pronto. Mas sempre tem um caso ou outro que fica ali porque gosta. E eu vou mandar embora? Não vou, né? Melhor estar ali comigo do que pela rua”, defende Marcelinho. “E aí vão atingindo a idade e seguindo as vidas. Vão para o primeiro emprego, como menor aprendiz, e eu fico feliz, porque, não deu na carreira do esporte, mas está encaminhado como cidadão. Eu tenho meninos com 18, 19 que são ex-aluno e estão ali me ajudando. Eles praticam as atividades e são praticamente um auxiliar, mas porque gostam”, completa.

NOVA OFERTA

Atualmente, são 120 crianças atendidas, em dois núcleos: Boa Vista e Rio Maina. Além disso, o fundador ampliou também a oferta de esportes. “Eu também entendi que nem todo mundo gosta de bola e a gente precisa democratizar o trabalho. O jiu-jitsu é um esporte que está muito em evidência e ajuda muito as crianças com problema de atenção”, destaca.

Ex-alunos se destacam no Criciúma Esporte Clube

Marcelinho tem três ex-alunos nas categorias de base do Criciúma Esporte Clube. São dois meninos e uma menina. “Tem um goleiro e um atacante no Sub-14. Tem uma menina nas Meninas Carvoeiras, a Ana Júlia. Todos oriundos do projeto. Mas, além disso, eu tenho a grata surpresa de ter meninos que já estão cursando a faculdade, que já estão trabalhando”, explica.

O fundador do projeto deixa claro que não ilude os meninos e apenas investe naqueles que têm condições de seguir a carreira profissional. “Eu não sou hipócrita, não vou vender sonho. Não vou iludir ninguém. Aquele que tem condição, a gente vai investir. Eu tenho muito conhecimento. Quando atleta, a gente faz muito relacionamento. Tenho portas abertas no Criciúma e também no Caravaggio”, pontua.

Acompanhamento total nas atividades escolares

O fundador do projeto não abre mão de acompanhar de perto a vida escolar dos integrantes do Sementes Para o Futuro. E cobra boas notas. “Um dos requisitos para estar ali é ter bom rendimento e comportamento na escola e em casa. É uma forma que, no bom sentido, a gente encontrou de puni-los. Se não tiver uma nota boa, não vai pro jogo. Pode ser o craque do time”, conta.

E a cobrança dá resultado. “Imagina: falar que não vai pro jogo, que não vai pro treino. É a paixão deles”, diz Marcelinho.

DEDICAÇÃO

Marcelinho dedica os finais de semana para acompanhar a rotina das famílias dos alunos. “Essa é outra coisa que eu entendi: a gente precisa fazer esse paralelo, porque, às vezes, tu prega uma coisa no campo, chega em casa, na realidade é outra: o pai tá preso, tu não tem nem comida na mesa. Daí a mente da criança fica meio confusa”, comenta.
Marcelo conta que o projeto auxilia 28 famílias.

Doações para a entidade não precisam ser apenas financeiras

Marcelinho ressalta que as doações não precisam ser, necessariamente, financeiras. “Por exemplo, de vez em quando, vai um atleta do Criciúma e, para um menino, ter contato com um jogador, é o máximo. Às vezes, fazer uma visita, dar uma palestra, doar o teu trabalho. Não é só dinheiro, que é importante. Às vezes, pode ser uma cesta básica, uma fruta para os meninos”, comenta.

O fundador diz que o programa está inscrito no Conselho Municipal da Criança. E recebe doações de colaboradores espontâneos. “Vem uma verba para 22 instituições. Anualmente, a gente tem ali 15, 20 mil que é pra investir em materiais esportivos. Mas a maioria são colaboradores espontâneos, que me conhecem diretamente”, ressalta.

Evento de Dia das Crianças celebra o aniversário da iniciativa

No sábado, em comemoração ao Dia das Crianças, Marcelinho reuniu as crianças na sede do bairro Boa Vista. “A gente fez essa celebração na Semana da Criança, que é uma data muito especial pra eles. Uma data muito emblemática pra nós, porque, com dez anos, já mostramos quais são as pretensões do nosso trabalho. Não tem interesse pessoal”, finaliza.

Uma vida modificada através do projeto social

Pedro Henrique Manenti chegou ao Sementes Para o Futuro com 12 anos. Ele tinha o sonho de ser jogador de futebol. Não conseguiu. Mas, hoje, aos 23 anos, casado e pai de dois filhos, é muito grato ao projeto social. “O projeto me ajudou a estar onde estou. Hoje eu sou sou promotor de vendas. E o projeto me ajudou bastante nisso. Não consegui realizar meu sonho de ser jogador de futebol, mas realizei o sonho de ter uma família e um emprego bom”, finaliza.

Pedro iniciou no projeto aos 12 anos e conquistou alguns títulos, mas não seguiu carreira de jogador. Hoje, ele tem dois filhos e está consolidado no mercado de trabalho

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