A arte do mosaico como caminho para a autodescoberta

Localizado aos pés da encosta da serra geral, a arte do mosaico tem ganhado força como uma forma de expressão criativa e terapêutica na Fazenda Sanravi. Regina Beatriz Gafforelli, professora de artesanato e proprietária do Ateliê Mosaico Mágico, é a responsável por compartilhar essa técnica milenar com a comunidade, oferecendo aulas que vão muito além da simples criação de obras de arte. Para Regina, o mosaico é uma ferramenta poderosa para autodescoberta, conexão e até mesmo superação de desafios pessoais.

A história de Regina com o mosaico começa em 2016, após sua aposentadoria como professora de Educação Física no Rio Grande do Sul. Natural de Porto Alegre, ela se mudou para Criciúma onde passou quase 30 anos trabalhando em uma revenda de gás. A aposentadoria, longe de significar descanso absoluto, foi o ponto de partida para uma nova paixão. “Com a aposentadoria, eu senti a necessidade de preencher meu tempo de forma criativa e produtiva. Foi quando soube que a Prefeitura de Criciúma oferecia aulas de mosaico, e decidi dar uma chance”, conta Regina.

Apaixonante

O que ela não sabia era que aquele simples curso abriria portas para um universo novo e apaixonante. “Nunca tinha tido contato com essa técnica antes, mas quando comecei, me apaixonei de imediato. O mosaico é uma arte fascinante, quase como uma ‘cachaça’, como costumo brincar com minhas alunas: depois que você experimenta, não consegue mais parar!”, diz, com um sorriso que revela o encantamento com a técnica.

O mosaico, que remonta à Antiguidade, especialmente à época greco-romana, é uma arte que envolve a montagem de pequenos pedaços de materiais diversos – como azulejos, pedras, vidro e conchas – para formar imagens ou padrões decorativos. A técnica exige paciência, precisão e um olhar aguçado para a composição. “No início, a gente fica meio tímido, faz a primeira peça com receio, mas logo vai melhorando, e a experiência de pegar um azulejo simples e transformá-lo em uma obra de arte abstrata é extremamente instigante”, explica a professora.

Mudança que ocasionou a profissionalização e ainda com qualidade de vida

Em 2020, Regina fez uma nova mudança em sua vida. Durante a pandemia, ela se mudou para Treviso, onde construiu com o marido uma fazenda. “Com a pandemia, eu decidi me afastar um pouco dos negócios, que ficaram sob a responsabilidade do meu filho. Aqui, finalmente tive a oportunidade de me dedicar mais ao mosaico”, conta ela, revelando a motivação por trás dessa reviravolta em sua trajetória.

Foi em Treviso que Regina começou a profissionalizar seu trabalho. Comprou materiais, produziu peças para vender e, com o tempo, passou a ensinar outras pessoas. “Aos poucos, fui me apaixonando ainda mais pela técnica. Quando surgiam feiras, eu colocava meu trabalho para expor. Não me considero uma feirante, mas o retorno das pessoas foi muito positivo”, afirma Regina, orgulhosa do reconhecimento que seu trabalho vem recebendo.

O processo criativo no mosaico, segundo Regina, é ao mesmo tempo desafiador e prazeroso. “Começamos com uma base de madeira, onde transferimos um desenho, inicialmente mais simples, para a superfície. O objetivo é ir cortando os azulejos e montando a figura com eles, um a um. Para isso, usamos ferramentas como o alicate de corte e, no meu caso, até uma maquita para cortar os azulejos”, explica.

Terapia

Além de ser uma técnica artística, o mosaico é uma verdadeira terapia. “É fascinante porque o mosaico permite transformar materiais simples em algo incrível. E a beleza desse trabalho está justamente em pegar peças que, de início, não têm significado nenhum, e, aos poucos, dar forma e vida a elas”, diz Regina, que considera o processo de criação uma experiência profundamente terapêutica. “Quando estamos focados em criar, não há espaço para preocupações ou problemas do dia a dia. Eu gosto de trabalhar ao som de música, e as horas voam. Às vezes, começo a trabalhar à tarde e, quando vejo, já é noite.”

Paciência e dedicação

Regina ressalta que, apesar de ser uma arte acessível, o mosaico exige paciência e dedicação. “Não diria que é difícil, mas definitivamente exige comprometimento. Muita gente começa achando que vai ser mais fácil, mas a técnica requer paciência, principalmente no início. Muitas vezes, crianças me perguntam se podem aprender, mas o mosaico exige o uso de ferramentas pesadas, como o alicate de corte, que pode ser difícil para os mais novos. Além disso, o azulejo é um material duro, e a força necessária para cortá-lo pode ser desafiadora”, explica.

No entanto, ela não se deixa intimidar pela dificuldade inicial e sempre incentiva suas alunas a persistirem. “Com determinação, tudo é possível. Eu sempre digo para as minhas alunas: ‘Se você quer, você consegue!’ E até hoje, nunca perdi uma aluna que tenha desistido por achar difícil demais. No começo, pode parecer complicado, mas com o tempo, a técnica vai fluindo, e a sensação de criar algo do zero é extremamente gratificante.”

De aluna a professora

Foi em 2023 que Regina tomou a decisão de começar a ensinar mosaico. Ela sentiu que a arte não apenas transformou sua vida, mas também poderia impactar positivamente outras pessoas. “Eu estava já completamente envolvida com o mosaico e sabia o quanto ele me fazia bem, tanto do ponto de vista criativo quanto terapêutico. Pensei: por que não compartilhar isso com outras pessoas?”, diz ela. Em Treviso, ela procurou a associação de moradores local e ofereceu seus cursos, com o objetivo de ajudar outras pessoas a ocupar seu tempo de maneira produtiva e criativa.

As alunas de Regina são, em sua maioria, mulheres, muitas delas donas de casa ou que buscam uma atividade criativa para se distrair. “Além de ensinar a técnica, as aulas têm um foco terapêutico. Muitas vezes, durante o processo de criação, as alunas acabam desabafando e compartilhando experiências pessoais. E, claro, elas têm a oportunidade de vender as peças que produzem, o que pode gerar uma fonte de renda”, afirma Regina.

Trabalho

O ambiente das aulas, ministradas na Fazenda Sanravi, em Treviso, é um reflexo do trabalho de Regina. “Eu sempre busco criar um ambiente acolhedor, com música ambiente e um cafézinho para as alunas, porque acredito que o ambiente também faz parte da experiência terapêutica”, diz ela. A fazenda, cercada pela beleza natural da Serra do Rio do Rastro, proporciona uma atmosfera tranquila e inspiradora, essencial para a criação artística. “Quem vem para cá não está apenas criando uma peça de mosaico, está vivenciando uma experiência de renovação.”

Curso gratuito em fevereiro

Em 2024, Regina foi contemplada com a Lei Aldir Blanc, o que permitiu a melhoria de seu ateliê. “Com a verba, consegui adquirir novos materiais, como azulejos de várias cores e novas ferramentas, incluindo alicates de dupla força, que são essenciais para um trabalho de qualidade”, conta Regina. Essa conquista também possibilitou a expansão de suas atividades, com a oferta de cursos gratuitos em fevereiro de 2025. “Esse curso gratuito será uma oportunidade para quem quer aprender mosaico sem custo. Será uma chance de vivenciar essa arte transformadora em um ambiente inspirador, cercado pela natureza”, diz Regina.

Inscrições

As inscrições para o curso gratuito já estão abertas, e as aulas acontecerão nas quartas-feiras, das 16h30 às 20h30. “Espero que o curso possa atingir pessoas que buscam algo novo, que queiram explorar sua criatividade ou até mesmo buscar uma forma de terapia através da arte”, conclui Regina, que segue dedicada a transformar vidas por meio do mosaico, uma arte que, para ela, é muito mais do que uma técnica: é um caminho de autodescoberta e empoderamento.

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