A nova pandemia da década: o crescimento explosivo dos jogos de azar online

Criciúma
Edson Padoin
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Nos últimos anos, um novo fenômeno tem dominado as telas e os corações de milhões de brasileiros: os jogos de azar online, as famosas Bets. Com o aumento vertiginoso da popularidade das apostas digitais, surgem preocupações sobre os impactos financeiros e sociais desse mercado, que já está gerando efeitos colaterais alarmantes na vida de muitas pessoas. A chamada “nova pandemia da década” não só representa uma ameaça para os jogadores, mas também para as suas famílias e, em última análise, para a economia do país.

As bets estão em todos os lugares, como em grandes mídias com anúncios ou patrocinando as principais competições esportivas do país. Além disso, os grandes propagadores do setor são, principalmente, os influenciadores digitais.

Segundo dados divulgados pelo Banco Central, cerca de 24 milhões de brasileiros gastaram, em média, R$ 20,8 bilhões por mês com apostas online nos primeiros oito meses de 2024. Este volume de recursos é um reflexo do crescente envolvimento da população com jogos de azar, especialmente no formato das “bets”, que englobam tanto jogos de sorte quanto palpites esportivos. A situação é ainda mais preocupante considerando que, dos R$ 14,1 bilhões do Bolsa Família repassados mensalmente pelo governo, R$ 3,1 bilhões foram destinados diretamente para esse tipo de “entretenimento” arriscado.

Em relação ao perfil dos apostadores, a maioria tem entre 20 e 30 anos, embora as apostas sejam realizadas por indivíduos de diferentes faixas etárias. O valor médio mensal das transferências aumenta conforme a idade: para os mais jovens, o valor gira em torno de R$ 100 por mês, enquanto para os mais velhos o valor ultrapassa R$ 3 mil por mês, de acordo com os dados de agosto de 2024.

Alerta

A Ministra da Saúde, Nísia Trindade, já alertou que cerca de 22 milhões de brasileiros realizaram pelo menos uma aposta nas bets durante o ano de 2023. Esse número impressionante coloca o Brasil entre os países com maior índice de jogadores online, o que levanta sérias questões sobre o impacto dessa nova indústria na saúde mental e no bem-estar social da população.

Segundo uma pesquisa do site infomoney, 63% dos que apostam no Brasil afirmam que tiveram parte de sua renda comprometida, e de 23%, 19% e 14% dos que apostam online afirmam que se abstiveram de comprar vestuário, alimentos, mercadoria e produtos de higiene pessoal, respectivamente.

Conforme um estudo feito pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o varejo deixou de faturar mais de R$ 103 bilhões ao longo do ano de 2024 em decorrência do redirecionamento dos recursos das famílias para as bets. O levantamento, denominado O Panorama das Bets, levou em consideração dados disponibilizados pelo Banco Central. Eles revelam que os brasileiros destinaram cerca de R$ 240 bilhões às bets em 2024.

De entretenimento a vício, o risco diário de quem joga

Maria (nome fictício), uma jogadora regular de apostas online há dois anos, compartilhou sua experiência com a reportagem. “No começo, jogava de forma bem moderada, apenas para entender o funcionamento, mas a coisa foi tomando proporções maiores. Hoje, destino cerca de 10% do meu salário para apostas”, confessa. Ela destaca que, embora não se considere viciada, reconhece o risco potencial do ambiente de apostas. “No início, era algo bem esporádico, mas conforme fui entendendo as estratégias e vendo as possíveis recompensas, fui me envolvendo mais.”

Maria relata que, ao longo desses dois anos, se deu conta de que o jogo se tornou mais regular em sua vida. “Muitos amigos me perguntam como faço para não ultrapassar os limites, e eu sempre digo que a chave é ter controle. Se começo a ver que estou apostando mais do que o normal ou se a diversão começa a se tornar uma preocupação, eu dou um passo atrás”, explica. No entanto, ela reconhece que muitos jogadores não possuem essa mesma consciência e acabam perdendo o controle.

Controle

“Apesar de eu acreditar que consigo manter o controle, sei que essa experiência pode ser arriscada para outras pessoas, especialmente para quem não tem o mesmo cuidado com os limites. Os jogos online de azar são projetados para serem emocionantes e envolver o jogador, mas é preciso estar sempre atento para não deixar que isso se torne um problema. No meu caso, tenho plena consciência de que o jogo é apenas uma forma de entretenimento, mas sei que, para outros, pode rapidamente se tornar algo muito mais sério”, conclui.

Impacto econômico para as famílias

O economista Alcides Goulart, doutor em economia, afirma que o crescimento desregulado dos jogos online tem impactado profundamente as classes mais baixas, especialmente aqueles que, por necessidade ou ilusão de mudança de vida, acabam gastando recursos essenciais em apostas. “Para quem tem mais dinheiro, esse fenômeno não gera grande preocupação. Eles viajam para cassinos em outros países ou investem grandes somas em Las Vegas. Porém, quem vive na base da pirâmide econômica, como os beneficiários do Bolsa Família, acaba comprometendo não só sua renda, mas o futuro de suas famílias”, aponta Goulart.

Utilidades

Esse impacto não se restringe apenas ao bolso dos jogadores. “Esses jogos retiram dinheiro que poderia ser usado para o consumo básico – alimentação, vestuário, medicamentos – e o colocam em uma espiral de especulação que, no fim das contas, não gera retorno para a economia”, explica. O economista ainda destaca que essa distorção financeira também tem efeitos colaterais no consumo da economia real. “A pessoa deixa de consumir produtos que movimentam a economia, como alimentos e bens duráveis, e canaliza recursos para um jogo que, estatisticamente, ela não tem como vencer”, alerta.

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