Nonna Niza completa 100 anos cheia de vitalidade e exemplos a passar

Criciúma
Alexandra Cavaler
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N a quarta-feira, dia 12, foi a data de celebrar a vida de uma mulher que completou 100 anos, um marco que representa não apenas a passagem do tempo, mas também a riqueza de experiências, sabedoria e histórias que ela carrega. Estamos falando da nonna Niza, Leonízia Munaretto Salvador. Ela, que desde a infância enfrentou um mundo em constante mudança, desafios e triunfos. Sua jornada é uma verdadeira inspiração.

Pecado morrer

Nascida em um período onde as convenções sociais eram bem diferentes e as oportunidades limitadas para mulheres, ela viu o mundo se transformar radicalmente – desde guerras e revoluções até inovações tecnológicas que mudaram a forma como vivemos. Tanto que ela afirma: “Hoje é um pecado morrer, porque hoje nós temos tudo e antigamente nós não tínhamos nada mesmo”, afirma nonna Niza.

Leonízia é viúva de Domingos Salvador, com quem foi casada por 56 anos e teve quatro filhas: Maria Inez, Glória de Fátima, Maria e Edite (in memorian). Natural de Içara, mudou-se para Criciúma quando se casou aos 22 anos. O marido era caminhoneiro e ela trabalha em casa, cuidava das filhas e criava animais (vaca, porco, galinha) e vendia leite. “Eu vivia muito sozinha com as minhas filhas, porque meu marido viajava e passava muito tempo fora, às vezes até um mês. Ele levava as picaretas dentro do caminhão para abrir as estradas e quando chegava em casa, a Maria, nossa mais velha, não reconhecia, ele ficava um pouco triste, mas depois passava e as brincadeiras voltavam ao normal”, lembra a nonna.

Sonho

Ela também conta que o marido tinha o sonho de ter um menino para dar o nome de Juscelino em homenagem a Juscelino Kubitschek. “Mas a cada filha que nascia, o sonho já não importava, e ele gostava cada vez mais, e amou essas meninas com todas as forças”, declarou emocionada.

Superação e a casa própria

A vovó centenária, especialmente lúcida, lembra que muito foi trabalhado até conseguirem a casa própria, nas proximidades do Hospital São João Batista. “Quando trabalhava na roça plantávamos e colhíamos legumes, banana, entre outras coisas para vender. Com muito esforço conseguimos comprar uma casinha; depois ele comprou o caminhão e esse foi um dos sonhos que vivemos juntos”, ressalta.

Um legado cheio de lições, conquistas e muita fé

Mais do que suas conquistas pessoais, o legado está nas lições que ela compartilhou com as gerações mais jovens. Sua resiliência diante das adversidades, seu amor pela família e amigos, e seu compromisso em fazer a diferença na comunidade merecem ser celebrados. Os netos, Domingos, Karline e Isabelle falam do orgulho e do privilégio de ainda ter a avó por perto, compartilhando lições.

“Sinto muito orgulho de ter nossa nonna conosco, forte, lúcida e com muita sabedoria para nos guiar nas escolhas de nossa vida. É através dela que sei de um passado tão remoto, quando em Içara e Criciúma havia raras casas e famílias. Dela ouvi muitas histórias, do tempo que levavam muitas horas para chegar ao Balneário Rincão com sua família, de carro de boi. Da dificuldade de ultrapassar as dunas, numa época que era tudo preservado. Da primeira cesareana no Hospital São José, que foi dela! Do acordar muito cedo para trabalhar na lida com as vacas e na horta caseira, porque trabalhar era acima de tudo prazeroso”, relatou Karline Salvador Grando. “Me sinto extremamente privilegiada de ter uma avó com 100 anos e principalmente por ela ser tão lúcida e tão bem de saúde. Nossa relação é muito boa, rodeada de amor, carinho, preocupação e dentre todos os exemplos que ela me passa, acredito que a fé em Deus é o principal, por isso sempre faço minhas orações e vou à missa”, emendou Isabelle.

Karline também ressalta os ensinamentos da grande matriarca. “A nonna é a mãe maior, nossa matriarca, que através de seu exemplo nos ensina quais devem ser as prioridades da nossa vida: a família e a fé em Deus. E sobre a fé, sempre vi a nonna com um terço na mão, rezando diariamente. Católica fervorosa, vê diversas missas ao dia e sabe tudo o que se passa em nossa igreja. Reza por todos nós e fica chateada se não avisamos quando alguém ficou doente, pois não pôde colocar nas intenções de suas orações. Além disso, apesar das dificuldades e dores que teve na vida, a fé foi o consolo em suas tempestades, e a verdadeira alegria para o seu coração. Hoje tento seguir um pouco do que a nonna nos ensinou, cultivando a fé também em nossa casa. Ela sempre teve um grande coração amoroso com os netos, bisnetos e com todos de quem dela se aproximou! Por seu jeito de ser, tão amável, que ela é admirada por tanta gente, que se orgulha neste dia tão feliz, seu centenário!”, assinalou a neta.

Filhas detalham a vida de amor e gratidão

As filhas Maria, Maria Inez e Glória de Fátima | Foto: divulgação

Maria Inez Salvador Cesca, que tem dois filhos e é professora, diz que lhe faltam palavras para expressar o sentimento de ter a mãe completando 100 anos e poder desfrutar de todos esses momentos ao lado dela. “Até faltam palavras para expressar o que sinto. Ela está com 100 anos e sempre foi uma figura forte e corajosa na minha vida. Criou quatro filhas praticamente sozinha, sempre trabalhando duro para garantir a nossa educação. E conseguimos trilhar um caminho de sucesso na área da pedagogia e da contabilidade. Além disso, tenho o prazer de compartilhar uma valiosa lição sobre honestidade que aprendi com meus pais, exemplificada pela história de ambos. E esse momento é, com certeza, uma oportunidade para celebrar a vida da nossa mãe e os valores que ela nos transmitiu”, destacou, acrescentado que se pudesse resumir sua mãe em uma palavra, seria “Trabalho!”

Inez ainda enfatiza que os filhos, independente da idade, condição financeira, solteiro ou casado, precisa tratar pai e mãe com respeito e amor. “Sei que não há receita, mas posso garantir que o necessário para os pais viverem mais tempo e com saúde, a exemplo da minha mãe, em primeiro lugar é o respeito. Não importa a idade, eles precisam ser respeitados em suas vontades, desejos e necessidades. E tão importante quanto, em segundo lugar, vem o amor. Dar amor em todos os momentos. Seja homem, seja mulher, seja filho jovem, seja filho com mais idade; respeito e amor são essenciais para os pais viverem mais e com qualidade de vida”.

Glória de Fátima Salvador Grando, também professora e mãe de um casal, ratifica as colocações da irmã Inez e acrescenta que a mãe, é uma mulher admirável e guerreira. “Ela sempre demonstrou força, fé e valores religiosos, os quais foram fundamentais na nossa educação. Além disso, vou revelar o quanto nossa mãe é vaidosa e gosta de cuidar da aparência, o que se reflete em sua alegria ao dar tantas entrevistas pela passagem dos seus 100 anos. Ela ama compartilhar histórias de vida, mostrando não apenas sua personalidade vibrante, mas também a força que sempre teve”.

A filha ainda dá destaque à trajetória da mãe a qual ela considera marcada por muito trabalho e dedicação, especialmente em tempos em que o marido estava frequentemente viajando. “Durante essas ausências, nossa mãe se tornou o pilar da família, cuidando das crianças e vendendo leite para ajudar nas finanças da casa. Essa responsabilidade a moldou como uma figura central na vida de todos ao seu redor. Quero aproveitar a oportunidade para também agradecer a todos que estão celebrando e vibrando o centenário de nossa mãe junto conosco”, completou Glória.

Extraordinário privilégio

“Que privilégio! Que momento extraordinário! Em nome da família Munareto Salvador, agradeço a Deus por ter nos dado a honra de testemunhar o centenário de nossa matriarca. Sinto-me orgulhoso em ter a nonna Niza, mulher combativa e trabalhadora, como avó e amiga”, assim o neto Domingos descreve a avó e retrata a felicidade de estar com ela.

Ele ainda elenca os valores repassados pela avó os quais permeiam a vida de todos os familiares. “Falar da nonna Niza, é falar de alguém que sempre esteve no centro de nossa família. Particularmente, tenho admiração especial por ela. Foi com ela que eu aprendi a simplicidade da “lida” na roça. Dentre as coisas, me ensinou, aos seis anos, ordenhar as vacas que possuía. Ainda tenho saudades de quando passávamos o dia construindo cercas ou realizando reparos no rancho e na estrebaria, pois em algum momento ela trazia algo saboroso: bolo, pão, cavaquinho, batida de fruta, suco, queijo, salame, entre outras delícias”, contou, lembrando que a vida na casa da nonna era uma como uma viagem por um mundo encantado onde tudo era possível.

“Eu não sei quantas pessoas você conhece pessoalmente que chegaram aos 100 anos de idade. Eu só conheço a nonna Niza! A existência dela é uma bênção, viver com ela tem sido um privilégio. Louvado seja o Senhor pela vida dessa mulher extraordinária”, disse Domingos emocionado e se declarando: “Te amo nonna Niza”.

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