De volta ao recomeço: histórias de superação e acolhimento em Criciúma

Criciúma
Edson Padoin
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“Eu me sentia invisível, como se ninguém se importasse comigo. A rua era meu único lar, e por muito tempo, pensei que não havia mais saída. Mas, um dia, as coisas começaram a mudar.” Essas palavras vêm de Vitória (nome fictício), uma mulher de 48 anos que passou mais de uma década vivendo nas ruas de Criciúma. Como Vitória, muitos outros encontram nas ruas um refúgio temporário, acreditando que não existe mais espaço para um novo começo. Mas, para ela, as portas da República – um dos centros de acolhimento da cidade – se abriram e, com elas, a chance de reconstruir sua vida.

Ampliação

A história de Vitória é apenas uma entre tantas que mostram a força da superação e o impacto do acolhimento humanizado. O município, que tem ampliado seus serviços de assistência social, tem se tornado referência no cuidado com as pessoas em situação de rua, oferecendo não só um abrigo, mas uma oportunidade de recomeço.

Histórias

A reportagem acompanhou de perto o trabalho realizado pelas equipes de abordagem social e visitou a República, onde pôde conhecer histórias de superação e os desafios enfrentados por quem busca recomeçar a vida longe das ruas. O município tem investido em uma rede de apoio, que vai desde o acolhimento imediato até o encaminhamento para tratamento de dependência química e reinserção no mercado de trabalho.

O desafio de reiniciar: da rua à esperança

As ruas de Criciúma são o lar de muitas histórias de abandono e dor, mas também de superação. Vítimas de dependência química, dificuldades financeiras ou simples falta de perspectiva, muitos se perdem nas ruas da cidade, sem saber como recomeçar. Vitória, como tantos outros, buscou uma nova chance, e ela encontrou no atendimento do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) e na República um apoio essencial para reescrever sua história.

“Eu não sabia onde mais procurar ajuda. Até que encontrei a República. Eles me acolheram com carinho e até me ajudaram a procurar um emprego”, conta Vitória.

Em 2024, mais de 900 pessoas foram acolhidas pela República. Já o Centro Pop, que registrou 1.091 atendimentos em janeiro de 2025, tem sido fundamental para dar suporte imediato a quem precisa. Com esse apoio, milhares de pessoas conseguem se reerguer e dar um novo rumo às suas vidas.

Abordagem social: o primeiro passo do amparo realizado

A secretária municipal da Assistência Social, Dudi Sônego, explica que a equipe de abordagem percorre diariamente os pontos da cidade onde há maior concentração de pessoas em situação de rua. “Nós temos uma equipe que sai de manhã e fica o dia inteiro nas ruas, 24 horas por dia. Eles já têm uma rotina estabelecida, com foco em bairros como Pinheirinho, Santa Bárbara, Milanese, São Luís e Santa Luzia, onde há maior evidência de moradores de rua. Eles visitam esses locais logo pela manhã, mas também permanecem disponíveis para responder a situações emergenciais, caso alguém entre em contato através do telefone da abordagem”, detalha.

A abordagem social vai além do simples acolhimento. Ao identificar um morador de rua, a equipe oferece uma gama de serviços que incluem alimentação, higiene pessoal e a possibilidade de voltar a se conectar com a família. Caso o morador tenha perdido documentos ou precise de ajuda para retomar sua vida, o Centro POP e a República oferecem as condições necessárias para isso.

“Se a pessoa quiser retornar à sua cidade de origem, nós fornecemos passagens. Muitas vezes, moradores em situação de rua vêm de outros estados ou municípios em busca de uma vida melhor, mas acabam se frustrando e, em muitos casos, se perdem devido a questões como a dependência química”, afirma Dudi.

O atendimento no Centro POP é oferecido durante o dia, com uma infraestrutura básica para que os usuários possam se alimentar, tomar banho e buscar orientação para a reintegração social. Já a República oferece um serviço diferenciado, funcionando como uma espécie de abrigo noturno. Os usuários podem pernoitar e permanecer por mais tempo, caso precisem de um apoio mais prolongado, e recebem o suporte necessário, como alimentação e cuidados pessoais.
mudança

Com a demanda crescente, o Governo Municipal estuda a mudança do local da República para um espaço maior. “Alguns dias, as vagas estão lotadas. Precisamos ampliar a estrutura”, afirma a secretária. Atualmente,

Dependência química é um dos desafios

Cerca de 40% das pessoas em situação de rua em Criciúma não são naturais da cidade. Muitos vêm de outros estados, com destaque para o Rio Grande do Sul, mas também do Norte do Brasil. A dependência química, segundo Dudi Sônego, é uma das principais causas que levam as pessoas para as ruas, com um índice que atinge 90% dos casos.

O governo de Criciúma tem investido fortemente para enfrentar esse problema. Em 2025, logo no início da gestão, o prefeito Vagner Espíndola ampliou significativamente o número de vagas para o tratamento de dependentes químicos. Antes, eram apenas 48 vagas. Agora, com a criação de 150 novas vagas, a cidade oferece mais oportunidades para quem deseja superar o vício e reintegrar-se à sociedade.

“É uma luta diária. A dependência química é uma doença difícil de lidar, e nem todos aceitam o tratamento de imediato. Mas estamos vendo avanços. No primeiro dia dessa ampliação, 15 pessoas procuraram ajuda”, comemora a secretária.

Tratamento

Atualmente, 120 pessoas estão em tratamento para dependência química no município. No entanto, a equipe de abordagem enfrenta a resistência de muitos que ainda não estão preparados para admitir a necessidade de ajuda. “Às vezes, a pessoa não aceita no primeiro contato, mas depois de um mês, ela volta e diz que está pronta. É um processo que exige paciência e respeito”, afirma Dudi.

Reinserção no mercado de trabalho é possível

Além do acolhimento e do tratamento para dependência química, a Prefeitura de Criciúma tem investido na reinserção dos moradores de rua no mercado de trabalho. No Centro Pop e na República, os usuários recebem ajuda para elaborar currículos e são encaminhados para a Central de Empregos, localizada no Terminal Central da cidade. “Muitos têm profissões e habilidades. Já encontramos dentistas, eletricistas, jardineiros e padeiros. A dependência química acaba afastando eles dessas atividades, mas eles têm potencial”, destaca a secretária.

Para fortalecer esse trabalho, o município está implantando um serviço especializado de abordagem social, composto por uma psicóloga, uma assistente social e um técnico administrativo. A equipe fará o acompanhamento das pessoas em tratamento, ajudando na elaboração de currículos, contato com familiares e reinserção no mercado de trabalho. “Muitos pais e mães nos procuram porque não sabem onde estão seus filhos. Alguns estão em tratamento e podem voltar para suas famílias”, explica Dudi.

Nova oportunidade de vida para quem aceita ajuda

A reportagem conheceu histórias de quem encontrou na República e no Centro Pop a chance de recomeçar. Vitor (nome fictício), de 30 anos, veio do Amazonas em busca de oportunidades em Criciúma. “Cheguei no início do ano e pesquisei na internet sobre a República. Recebi auxílio psicológico e ajuda para montar meu currículo. Hoje, trabalho como consultor de moda, algo que nunca tive a oportunidade de fazer no Norte do país”, relata.

Empregado

Outro exemplo é Eliel (nome fictício), de 67 anos, natural de Porto Alegre, que chegou à cidade em busca de uma nova chance após passar por dificuldades financeiras. “Cheguei em Criciúma faz um mês e fui muito bem acolhido na República. Hoje já estou trabalhando em uma cerâmica, e estou muito grato pela estrutura e pelo apoio que recebi”, afirma Eliel.

Luis (nome fictício), por outro lado, é um exemplo das dificuldades que muitas pessoas enfrentam ao tentar sair da rua, especialmente quando lidam com a dependência química. “Sou natural de Criciúma e fui morar na rua há cinco anos. Já fiz tratamento, mas recaí. Hoje não quero voltar para a clínica, mas um dia quero tentar novamente”, revela.

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