Do sofrimento à força: O impacto do Navit em mulheres vítimas de violência

Criciúma
Alexandra Cavaler
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O Ministério Público desempenha um papel fundamental na promoção da justiça e na proteção dos direitos humanos, especialmente no que diz respeito à violência contra a mulher. No contexto do projeto Navit (Núcleo de Atendimento às Vítimas), essa instituição se torna um agente de transformação social, atuando de forma proativa para apoiar mulheres vítimas de violência e empoderá-las em sua jornada de recuperação e resiliência.

Suporte

O projeto Navit é uma iniciativa que visa oferecer suporte integral às mulheres que enfrentam situações de violência, proporcionando não apenas assistência jurídica, mas também acolhimento psicológico entre outras oportunidades. O Ministério Público, ao se envolver com essa proposta, contribui para a criação de um ambiente seguro e acolhedor, onde as mulheres podem encontrar respaldo e orientação em momentos de fragilidade.

Uma das principais abordagens do Ministério Público no projeto é a promoção da conscientização sobre os direitos das mulheres e a importância de denunciar a violência. Por meio de campanhas educativas e ações comunitárias, busca-se desmistificar preconceitos e incentivar as vítimas a falarem sobre suas experiências, rompendo o ciclo do silêncio que muitas vezes perpetua a violência.

Impacto que transforma

Quando o assunto é o impacto que o Navit tem tido na vida das vítimas atendidas até agora, Dr. Samuel Naspolini é enfático: “O impacto é transformador. O apoio social tem garantido condições mínimas de sobrevivência para famílias que perderam seu suporte material. Temos um retorno muito positivo, ainda, das vítimas que passaram por sessões, individuais ou em grupo, de apoio psicológico, e relataram avanços significativos no processo de superação do trauma causado pela violência”, ressaltou revelando perspectivas futuras para o Navit. “Pretendemos ampliar os atendimentos para as Comarcas vizinhas, chegando a todo Sul do Estado. E planejamos ampliar também as ações sociais e de apoio psicológico, além de otimizar as providências para reparação dos prejuízos causados pelo crime”.

Instância de apoio importante

O Navit, ainda conforme o DR. Samuel Naspolini, não interfere sobre as investigações e processos em curso, mas apresenta-se como instância de apoio a um personagem importantíssimo no Processo Penal, “que sempre teve, porém, seus interesses e direitos negligenciados: a vítima do crime, ou seja, o órgão tem por objetivo o apoio às vítimas. Seu principal objetivo é a reconstituição dos direitos violados. Não há relação entre o trabalho do Navit e os índices de violência”, explicou. No âmbito da Violência Doméstica, o MPSC, com o apoio do Navit desenvolve, faz alguns anos, projetos de conscientização nas escolas, discutindo a temática da Violência contra a Mulher e a Lei Maria da Penha.

Promotor de Justiça esclarece

DR. Samuel Naspoli diz que é importante ampliar a rede de entidades conveniadas, para aprimorar os serviços oferecidos

O Promotor de Justiça Samuel Dal Farra Naspolini, que coordena o Navit Sul, destaca o que motivou a criação do Navit e quais são seus principais objetivos. “O que nos motiva é a preocupação com a vítima, no processo penal, e a necessidade de protegê-la e garantir seus direitos. O principal objetivo é a reconstituição dos direitos da vítima violados pelo crime e a preservação de seus interesses durante e após o processo. Importante destacar que o Navit pode ser procurado pelas vítimas interessadas ou, como tem acontecido principalmente até o momento, o próprio órgão procura as vítimas que comparecem às audiências no Fórum”, relatou, acrescentando que o Núcleo oferece, mediante atuação conjunta com os órgãos parceiros, orientação jurídica, apoio psicológico, assistência social, informações sobre o processo, além de outras demandas pontuais eventualmente apresentadas pela vítima.

Desafio

Questionado sobre os principais desafios enfrentados pelo Navit em sua atuação, o promotor elenca: “Em primeiro lugar, é importante que as vítimas, em toda Região Sul, conheçam e procurem o órgão. Na sequência, o principal desafio é a ampliação da rede de entidades conveniadas, justamente para que os serviços oferecidos às vítimas também possam ser aprimorados”, assinalou Dr. Samuel.

Vítima fala do drama vivido e o acolhimento no Núcleo

Depois de muitas ameaças, casada por 35 anos, Maria (nome fictício), lembra que perdeu as forças para lutar. “Eu venho de um longo relacionamento abusivo, tanto do meu marido quanto da minha filha. Eu já não tinha mais forças para lutar, separei algumas vezes, mas quando voltava eu virava capacho novamente. Eu estava tão desesperada que busquei ajuda de muitos médicos, mas quando passei a ser atendida pela equipe parceira do Navit, na Unesc, ou melhor, com o Geison ele me deu muita força, me esclareceu muitas coisas, fez terapia comigo, com meu marido, com meus filhos, mas chegou o momento em que eu disse que não queria mais. Ainda assim, ele voltou pedindo para tentarmos. Neste mesmo tempo eu e minha filha estávamos em atrito. Num certo dia, ele estava aqui em casa, minha filha chegou para pegar suas coisas e disse que nós tínhamos mexido no que era dela e passou a discutir com todos nós. Em pensamento pedi a Deus que ela fosse, que fosse numa boa, que fosse embora, que já não estava dando certo mesmo, mas quando eu dei por mim, eu estava no chão. Eu levei um soco na testa, outro no olho, fui chutada, era sangue para tudo quanto era lado. Quando eu voltei, porque eu apaguei, chamei a polícia. Ela me bateu e ele não se mexeu, se não fosse os meus filhos eu acho que ela teria me matado”, lembrou com lágrimas nos olhos.

Encontrar apoio

Após o episódio, Maria soube da proposta do Navit, realizada em parceria com a Unesc e resolveu procurar ajuda. “Procurei, conheci e me tornei um membro. E para mim foi muito importante porque tem pessoas lá, às vezes, que a situação é até pior que a minha. Uma escuta a outra, dá força, sem contar que foi uma forma de eu me reconectar com as pessoas, voltar a conversar, fazer terapia de novo, conhecer situações diferentes, nos aconselharmos, ou seja, uma grande oportunidade de eu me levantar novamente”, comentou agradecida pelo acompanhamento e acolhimentos recebidos.

Maria ainda revela que junto do grupo muitas pautas são discutidas. “Neste grupo a gente discute tudo; inclusive, eu aprendi outros tipos de proteção que a gente tem, às vezes a gente não sabe, como ter direito a um advogado. Nos encontros a gente também divide formas de nos protegermos para não voltarmos a cair em ciladas e eu volto para casa com as energias rnovadas. Conto os dias para a data semanal de nos encontrarmos, dividimos experiências, ouvir, falar, ser acolhida, até choramos juntas porque todas entendem o que a outra está sentindo, mas posso garantir que esse projeto mudou a minha vida para melhor e a de muitas outras mulheres, pois em 2018, se eu tivesse tido o que eu estou tendo hoje, eu não teria voltado para ele, não teria passado pelo que passei”, comemora deixando um importante recado às mulheres: “Denuncie, procure ajuda, você não está sozinha. Estamos aqui umas pelas outras e com projetos lindos como esse do Ministério Publico, junto da Unesc, que nos acolhem, nos ouvem, nos entendem, nos orientam e nos permitem renascer”.

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